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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Hopper’s Farm – Petesburg, TX

Já fazia um tempo que eu estava para ir visitar a fazenda do irmão do Dr. Hopper, Ronny, e não tinha a oportunidade. Na última sexta-feira (dia 23/10) Thomas e eu fomos à Petesburg para fazer essa visita. Thomas é um dos alunos da Tech que vai para o Brasil ano que vem, fazer parte do mestrado dele conosco lá na UFRGS, e o pai dele trabalha nessa fazenda que nos fomos visitar.

Não tive a oportunidade de conversar muito com o proprietário, mas o filho dele, Arn (com  quem trabalha em parceria), nos recebeu muito bem. Conversamos muito além das cerdas da propriedade e entendi um pouco mais o estilo do pessoal aqui.

Uma coisa que me chamou muito a atenção na propriedade foi a organização em tudo, desde peças para reposição, maquinário, ferro-velho, documentação e tudo mais. Isso ajuda na otimização do tempo de serviço, eles não tem que procurar nada pois sabem onde está e se precisam carregar alguma coisa é só pegar a empilhadeira e colocar no reboque. Ferro-velho não se vê muito, como eu já tinha comentado de ter visto em outras propriedades. Quando entramos no galpão de peças e oficina (é mais que um almocharifado) me impressionou a quantidade de pratelerias com gavetas e todos os tipos de peças e equipaentos como torno e solda necessárias para quaisquer reparos. O argumento para tamanha infraestrutura e estoque é que leva muito tempo para ir à cidade, buscar uma peça que falta e voltar (cerca de 30 a 50 minutos), além do combustível gasto e de alocar uma pessoa para fazer isso. Parece pouco, mas é um tempo perdido importante se considerarmos época de colheita, ainda mais que eles fazem colheita para outros fazendeiros na volta.

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As terras da propriedade não são todas juntas, isso dificuta a logística, então fica complicado de terem que votar ao galpão para fazerem reparos. Por isso, para facilitar ainda mais, eles tem uma van-oficina, com aparelho de solda, gerador e outras ferramentas, e ali carregam tudo necessário para reparos a campo. Outro aspecto distinto da propriedade é o aproveitamento de materiais. Tudo o que pode ser reutilizado é estocado e restaurado, se não tem mais utilidade é vendido para outras pessoas como peça usada ou para ferro-velho. Arn está sempre procurando materiais que possa comprar por preço barato para reutilizar. Uma das últimas aquisições foram canos galvanizados de um antigo poço, que ele planeja utilizar para fazer mangueiras para o gado (embora no momento não tenha nada de animais).

Em meio a uma das conversas Arn me disse que um das grandes fontes de renda para eles é colher algodão para os outros, pois o algodão de eles plantam não gera uma entrda considerável, que se não fosse pela tercerização de serviços nessa área, não teriam resultados com o setor. É interessante rever alguns pontos sobre isso, pois ele não foi a primeira pessoa a me dizer a mesma coisa. Considerando isso, na mimnha opnião, o produtor de algodão segue fazendo plantando pois: 1) ganha subsídeos do governo (o que parece que está por mudar); 2) já é uma tradição e não quer parar de plantar, até por que “não sabe fazer outra coisa”; 3) tem renda não-agrícola, ou 4) tem medo de mudar de setor no mercado, mudar o tipo de exploração, por desconhecimento, falta de força de vontade ou (uma aspecto que me chamou a atenção) por incerteza na sucessão. Os gastos com algodão são bastante altos (vou pesquisar a respeito disso um pouco melhor para poder colocar alguns números), entre eles o gasto com energia elétrica para irrigação corresponde a aproximadamente 40% do total.

Nessa propriedade eles também plantam milho irrigado, uma lavoura não tão comum aqui nessa região por causa da escacez de água. Eles chegam a aplicar 20 a 22 polegadas (mais de 500 mm) de água no milho. É de se pensar a respeito da sustentabilidade e rentabilidade desse cultivo, pois aqui muito se fala da superutilização do Aquífero Ogallala (abaixo vou colocar alguns links com informações sobre o aquífero), que vem apresentando redução no nível estático de água durante esses últimos anos. Mas, todo o caso, me disseram que era uma cultura rentável para o nível tecnológico que eles usam.

Irrigação é impressionante aqui em toda essa região, até por que sem ela não se produziria o tanto que se produz de algodão (20 a 25% de todo o algodão dos Estados Unidos só nessa região em cerca de Lubbock) e nem outras culturas como o sorgo granífero, alfafa para feno e um pouco de trigo. Nessa propriedade há uma rotação de áreas em baixo dos pivôs, ou seja, todo o ano tem pivô que fica parado ou subutilizado. Isso se deve principalmente à capacidade de suporte do aquífero. O maior pivô que eles tem na propriedade é de um pouco mais de 3/4 de milha (mais de 1200 metros), que aproveita cerca de 65% da área (80 hectares), e não mais por causa de uma estrada que corta a fazenda. O custo de implantação desse pivô, segundo o dono, é mais ou menos a metade do que seria normal, devido à área abrangida (U$250, apriximadamente).

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Ainda sobre algodão, notei que quase sempre as linhas de plantação são curvas, mesmo não estando em baixo de pivô central (aqui também tem irrigação subsuperficial por gotejamento, que inclusive o governo paga metade dos U$1.000 por alqueire, e algodão não irrigado). A resposta pude presenciar no domingo passado quando voltava do Novo México quando enfrentamos uma tempestade de poeira. A erosão heólica aqui é muito intensa, então o plantio em curvas evita que o vento ganhe intensidade nas entrelinhas (que por sinal quase sempre descobertas) e eroda o solo, além de que a poeira “queima” o algodão (suja), diminuindo o valor de mercado.

Essa também foi uma das poucas propriedades que fui que se faz “plantio direto” (pelo que entendi é mais um cultivo mínimo), com rotação de culturas. Se não me engano, eles fazem uma aração a cada 3 anos (a justificativa é o manejo de nutrientes, não entendi muito bem o propósito). Em conversas com outros fazendeiros aqui, perguntei por que não faziam o plantio direto, as respostas eram variadas, do tipo: por causa do manejo de daninhas, por que não é eficiente, por que sempre plantaram no convencional, outras que não lembro… Mas quando perguntava sobre cultura de cobertura sempre me diziam: “não plantamos nada de cobertura para não gastar água”. Não achei uma razão boa para não colocar cobertura, pois muitos deixam o solo descoberto e há uma perda grande por erosão heólica, perda de nutruentes por escorrimento (não tão importante por que aqui é muito plano, mas o solo é argiloso), e materia orgânica creio que não deve ser maior que 0,5%.

Nessa propriedade o Arn me disse: “eu faço plantio direto e tenho sempre cobertura por que assim consigo colher o máximo possível de água da chuva, já que a matéria orgânica consegue absorver mais do que seu peso em água e estocar para a próxima cultura, isso me diminui bastante a necessidade de irrigação. Quando planto algodão sem irrigação ou sorgo sem irrigação, esse estoque de água da MO é a fonte principal para a cultura, já que as chuvas são escaças. Quando chove (e geralmente a intensidade é grande), consigo absorver o máximo dessa precipitação.” Interessante ponto de vista…

Gostei de conversar com o Arn pela visão de negócio que ele tem. Infelizmente notei (e já havia percebido em outras conversas com outros prorpietários) o quanto o pessoal é restrito ao local onde vivem. Não querem sair, não conhecem muito à volta. Espero estar enganado, mas ao que parece, mara muitos mas não generalizando, que o que importa é o que eles tem à volta, não importa os outros estados, quanto menos outros países. A impressão que dá é que falta uma visão de mundo. Mesmo assim, o nível de trabalho e tecnologia é muito alto, e, mais interessante, quem trabalha na propriedade são os donos (creio que já falei isso, mas reforço) e um ou dois funcionários. O pessoal sobe mesmo para as máquinas.

Bueno, acho que é isso! Assim que der volto a escrever!

Abraço a todos!

 

Mais informações:

Aqui tem um trecho da introdução de um artigo da Dr Allen (2004)  sobre sistemas agrícolas aqui na região:

“CONVENTIONAL MONOCULTURE AGRICULTURAL SYSTEMS can reduce the quality of soils by loss of organic matter and structure because of low levels of organic inputs and regular disturbance from tillage practices. Cotton produced in the Texas High Plains region has been under continuous monoculture and conventional tillage systems that contribute to wind-induced soil erosion and reduce organic matter of these semiarid soils (V. Allen, unpublished data, 2004). Besides loss of quality in soils under continuous monoculture cotton systems, there is concern that irrigated cotton is using water from the Ogallala aquifer at rates that exceeds the water recharge. Thus, recent efforts are focused on developing integrated cotton cropping and livestock production systems that reduce water withdrawn from the Ogallala aquifer and that provide more conservative sustainable agricultural practices”

http://soil.scijournals.org/cgi/content/full/68/6/1875

Mais informações sobre o Aquífero Ogallala estão disponíveis nesses sites: http://en.wikipedia.org/wiki/Ogallala_Aquifer; http://www.waterencyclopedia.com/Oc-Po/Ogallala-Aquifer.html

 

2 comentários:

  1. Amazing coincidence, Marcelo, but my dad farms about ten miles north of the Hoppers, and we know them very well!

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  2. uau, isso que é uma aula de erosão e PGA bem aplicada, hehe. Dá gosto de ler. Abração

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