Coloreou-se o céu em fim de tarde
O rubro se confunde com a estrada
Um quero-quero voa alegre em rebeldia
Tendo o mundo só para si, e mais nada...
As roças se mesclam entre lindeiros
No lusco-fusco pressagiando noite clara
A vaca berra, procurando seu terneiro
Que vem correndo, e pela chuva logo esbarra...
De rosilho transformou-se o céu mestiço
Num encarado prenunciando um bom tempo
Na volta às casas vem um piá no seu petiço
Junto da ceifa que há pouco estava colhendo
O ocaso que por belo, só encanta
Se mistura à liturgia de um amor
Essa paixão que o campeiro tem do campo
Que por agrado fez ali seu vertedor
A natureza que por bela nos ensina
O quão pequeno que somos ante ao todo
A precisão de processos e enzimas
E a força d’água da Garganta do Diabo
Na mata, que por virgem espreitam lendas
A pintada fez ali seu parador
Nos que ousamos tomar conta de sua casa
Às vezes nos pega por susto ou por temor
Já bem mais tarde, quando o céu se borda todo
Vejo o cruzeiro mostrando o rumo pro sul
E as Três Marias que carregam o meu sonho
De ver paz sob este mando azul
De manhã cedo os cantos em sinfonia
Se juntam ao cheiro das matas e de flor
Pois o jasmim me traz cheiro de esperança
Quando procuro nos meus rumos arpoador
Quando dou conta, germinaram muitos sonhos
Muitas idéias e vontades com vigor
Sigo andando peregrino por caminhos
Vou buscando para a vida vertedor
Se ando errante busco paz, entendimento
Assim vou vendo o que a vida reservou
Se o destino propuser vou aprendendo
Rodando o mundo, sem medo, assim me vou
Vejo que o rumo, aos poucos, negaceia
Peso meus planos, já é hora de voltar
Deixo aqui um manto enorme co’minhas ânsias
Para um dia quando possa regressar...
Fazenda Toca da Onça, Toledo, PR, 22-fev-2009
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